"É assim a vida."
Sabe daquelas surpresas boas da vida, quando a gente menos espera? Foi assim que esta história começou para nós. Eu havia marcado uma visita ao ateliê do Fernando Rei, para conhecer um pouco mais o seu trabalho no tear – falamos sobre a história dele em outro capítulo especial (aqui). Já a subir a estrada para Aboim da Nóbrega, uma freguesia ainda mais verde do que a freguesia de Vila Verde, eu procurava pelo telhado, também verde, referência que o Fernando me avia falado para chegar ao ateliê. O que ele não havia dito era que sua bela mãe estaria à espera, no jardim à frente da casa.
Aproximei-me, ela estava com o olhar ao longe, e disse: “estou aqui a observar o trabalho daqueles homens a armazenar o feno. É assim, guarda-se no verão para ter o que comer no inverno. É assim a vida”. Eu, diante daquela observação, complementei: “é como a história da cigarra e da formiga, pois não?”. Sorrimos, ela se apresentou, disse que era a mãe do Fernando e que ele estava à minha espera no ateliê, anexo à casa. E acompanhou-me até lá. Enquanto eu começava a conversa com ele, dona Rosa começou a fiar a lã. Aquela cena me emocionou, pedi a ele um tempinho na conversa e comecei a falar com ela.
“A senhora ainda trabalha com a lã, dona Rosa?”, perguntei-lhe. “Só por distração, fico cá a acompanhar o Fernando às vezes.” São 76 anos que ela tem, mas, uma destreza de fazer suspirar até as mocinhas.
“Eu já bordei também, nas horas livres do trabalho do campo”, ao que completou o Fernando: “um dos originais dos lenços daqui de Aboim foi ela quem fez. Eu o tenho em moldura, já te mostro”.