ENDEREÇO

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Vai Lenço Feliz Histórias
de artesãos
[ Histórias de artesãos ]

"Os bordados são a minha companhia."

Foi numa manhã fria, apesar do sol lindo e alto a reinar no céu, que conhecemos a Dona Delfina Barbosa. Meio tímida, poucas palavras, foi nos ganhando o coração e, cá entre nós, acho que a conquistamos também.

De Turiz, freguesia do concelho de Vila Verde, desde jovem Dona Delfina tem vivência em trabalhos manuais, nomeadamente, a costura, o croché, o tricô e os bordados.

 “Eu tinha mais ou menos 14 anos quando comecei a frequentar a Obra das Mães, que era como um centro de convívio e de ocupação do tempo em formações, por exemplo. Confesso que eu havia me desentendido com a professora da escola e, por isso, minha mãe achou por bem que eu estivesse um pouco mais ocupada, digamos!”. Ela sorriu um sorriso maroto e eu entendi bem o que devia ter se passado.  “foi um tempo muito bom da minha vida. Tínhamos cursos de formação de tanta coisa, até de culinária. Era mesmo bom, a gente aprendia a fazer coisas lindas e, com isso, podia ganhar a vida também. Eu andei por lá uns 30 anos!”.

“Antes mesmo de começar a bordar os Lenços de Namorados, eu fazia muito crochê. Fazia roupas, colchas, toalhas de mesa… até que conheci os Lenços, já na década de 80 mais ou menos, e fui aprender a bordar. Aí, veio um outro amor, né?”. Imaginamos que sim, Dona Delfina, os teus olhos brilham e um sorriso se esboça quando diz!

 

Enquanto falava, ela tirava da bolsa três lindos lenços antigos, dos primeiros bordados por ela, e que ela guarda com muito carinho. Um deles bordado em branco, o dito ‘Lenço da Noiva’, de uma perfeição sem fim. “Esse lenço eu tenho com muito carinho. Não calhou de eu me casar, mas, não é por isso que me sinto só. O bordado é sempre a minha companhia. E o lenço ficou de recordação.”, dizia ao mostrar cada detalhe, orgulhosa de si.

“Cada lenço tem uma história, né? Já bordei lenços de noiva para noivas também!”, ao que rimos um bocado.

Dona Delfina tem hoje 67 anos e faz questão de reforçar que andou em formações até aos 66 anos. “Sabe o que é melhor nas formações? As amizades que a gente faz. Eu fiz muitos amigos, até mesmo com as formadoras e, vez ou outra, apareço para um café.

Sempre fui muito animada e marota e acho que eles gostam disso. Vou contar uma coisa a vocês: eu deixei a Obra das Mães num dia 1 de abril, sabe que dia é, certo? Dia das pulhas (da mentira). Então, eu cheguei eu lá para me despedir muito séria, mas muito séria mesmo e disse assim ‘ó Dona Alice, diz que o Padre Diogo caiu pelas escadas abaixo e partiu uma perna!’ e ela, começou a ficar nervosa e dizia, ‘valha-me, Deus, Delfina, mas eu li o Jornal e não vi nada!’. Aí, eu desatei-me a rir como uma perdida, e ela percebeu que afinal era 1 de abril. A gente se divertia até na despedida!”

Imaginamos a cena, rimos mais um pouco e Dona Delfina puxou um lenço para bordar. Dizia não conseguir estar só a falar e perguntou se podia bordar. E, como se sintonizasse um outro canal, contou-nos: “sabe uma coisa que gosto muito de fazer também? Cantar. Eu sou do grupo de coral da igreja e também toco órgão. Eu gosto muito e nós também fazemos imensos convívios. Quer dizer, fazíamos antes da pandemia, agora, já não sei como vai ser pra frente. Já percorri o país todo com o grupo, é sempre muito divertido, fazemos excursões, cantamos com as concertinas e nos divertimos muito. Não sei como vai ser agora, espero bem que mude e que a gente volte a conviver com as pessoas. Enquanto isso não muda, os bordados são a minha companhia”.   

A gente também espera que tudo isso passe logo, que todos possamos voltar a conviver, rir como antes, abraçar e passear, Dona Delfina. Por ora, vamos nos divertindo assim, de pouco a pouco, conhecendo gente com a energia e boa onda da senhora, com os seus imensos talentos.


É sempre bom reviver a história, e as histórias por trás dos lenços são lindas. E é isso que faz com que nós, Vai Lenço Feliz, queiramos cada dia mais, ser também um ponto neste bordado. E, assim como o linho se enche de cor e revela tanto encanto, nós colocamos em palavras tantas histórias especiais. Valorizando cada saber, o que move o coração, com partilha, reconhecimento e muita vontade de somar.

Vai Lenço Feliz. A contar histórias felizes.
Texto de Andrea Monteiro, Gestora de marketing e relacionamento, em janeiro de 2022.

Nota: “Lenços de Namorados do Minho” é uma I.G (Indicação Geográfica) com produção certificada, de origem portuguesa.