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Uma grande conquista para a produção artesanal em Portugal – que, registe-se, é extremamente rica e variada, mesmo dadas as pequenas dimensões do país -, sem dúvidas, foi a certificação dos seus produtos, feito que teve início em 2002, com os “Lenços de Namorados do Minho”* e, desde 2016, é acreditada pelo IPAC, Instituto Português de Acreditação, através da A.Certifica.
O trabalho da A.Certifica teve embasamento em pesquisas anteriores realizadas por algumas senhoras que, com excelência, fizeram uma grande recolha de lenços. Segundo Teresa Costa, diretora da empresa, “nomeadamente a Dona Adelaide, em Terras de Bouro, a Dona Maria do Carmo, da freguesia de Aboim da Nóbrega, a Dona Conceição, de Vila Verde, a Dona Júlia, que era de uma associação de Ponte de Lima, e, posteriormente a Dona Sameirinho, que também tinha feito uma recolha muito grande em Amares”. A partir daí, segundo ela, iniciou-se o processo de certificação. “Fomos à Madeira perceber como é que se fazia o processo dos bordados, já que este era o único exemplo que tínhamos no país. E, em 2002, o primeiro produto a ser certificado em Portugal Continental foi o “Lenço de Namorados do Minho”*. Passados quase 20 anos, já se somam mais de 5.500 os lenços certificados, o que demonstra o seu reconhecimento e notoriedade por parte das pessoas”.
Embora existam noutras regiões de Portugal peças plasticamente próximas e com funções similares, é no Minho que os Lenços de Namorados têm particular vitalidade: a força da sua presença antiga tem motivado iniciativas de relançamento cujo sucesso aparece como a manifestação contemporânea de uma tradição cultural local.
“É um ato de amor e de amizade, pois, ao longo do tempo, eles foram ganhando novos significados. Hoje em dia, não se oferece um Lenço de Namorados só ao namorado ou a namorada, mas, há também verdadeiras dedicatórias de filhos para pais, netos para avós e vice-versa, de amigos para amigos. O importante é a transmissão destes sentimentos de afeto”, observa.
Teresa relembra também que, na medida em que iam sendo encontrados os lenços, as bordadeiras tratavam de os reproduzir, com o intuito de os preservar, e para garantir que houvesse sempre uma amostra, evitando, assim, que aquela arte se perdesse. Mas, também é fato que os lenços, na medida em que iam sendo reproduzidos, sofriam algumas interferências criativas das próprias bordadeiras, nas cores, nos desenhos, ou seja, elas se inspiravam e acabavam por dar o seu toque pessoal, o que, na prática, dava origem a um novo lenço. “Como percebemos isto muito cedo, no processo de certificação criamos logo 03 categorias: Lenços Clássicos, que são réplicas exatas de peças originais, entendendo-se por originais os lenços produzidos anteriormente a 1960;
Lenços de Criação Clássica, que, resumidamente, são lenços inspirados nos Clássicos, porém, com intervenções no que diz respeito a cores, disposição dos elementos, por exemplo, mas, que não usam quaisquer elementos criativos novos, ou diferentes dos amplamente catalogados nos originais; e os Lenços de Criação Contemporânea, que permanecem na temática das quadras ou versos de amor, mas, que trazem elementos criativos novos, de acordo com a linguagem cotidiana atual”.
A A.Certifica hoje possui um leque de 19 produtos artesanais portugueses, não alimentares, que são certificados e, em todos eles, há uma categoria ligada à inovação, porque entende-se que é possível inovar na produção, fazendo com que a arte não fique presa ao tempo, ao contrário, que evolua com ele. Tanto em termos de cores, quanto em linguagem, no caso específico dos Lenços de Namorados. Afinal, se em tempos passados houve a liberdade no uso da linguagem fonética nos lenços bordados por raparigas menos letradas, por que não usar abreviações ou expressões usadas pelos jovens de hoje? “Desde que se mantenha as características enumeradas no Caderno que orienta a certificação, não há motivo para desconsiderar novas nuances criativas”, conclui Teresa Costa.
São capítulos como este que fazem com que nós, Vai Lenço Feliz, queiramos cada dia mais, ser também um ponto neste bordado. E, assim como um tecido se enche de cor e revela tanto encanto, nós colocamos em palavras tantas histórias especiais. Valorizando cada saber, o que move o coração, com partilha, reconhecimento e muita vontade de somar.
Vai Lenço Feliz. A contar histórias felizes.
Texto de Andrea Monteiro, Gestora de marketing e relacionamento, em setembro de 2021.
Nota: “Lenços de Namorados do Minho” é uma I.G (Indicação Geográfica) com produção certificada, de origem portuguesa.